16 de nov. de 2011

A Bíblia (I)

A palavra evangelho quer dizer boas notícias. Quando você lê um dos evangelhos, que estão no início do Novo Testamento, você ouvirá a boa nova sobre Jesus Cristo. O resto do Novo Testamento ajudará a entender como os primeiros cristãos ouviram a boa nova, o que fizeram com ela, como ela mudou suas crenças, suas esperanças, suas vidas, e como a Igreja começou. Mesmo quando não é mencionado, a figura chave em qualquer página, é Jesus Cristo, que é a Palavra Viva de Deus para nós. É por meio de Jesus Cristo que Deus nos alcança e se oferece a nós.

O Antigo Testamento é a Bíblia hebraica que Jesus conhecia e amava. Deus entrou na vida humana (encarnou-se) em um lugar, tempo, povo e pessoa específicos. Não podemos entender a Cristo separado das Escrituras, que formaram o seu pensamento enquanto crescia, e forneceram a base do seu ensino quando adulto. Lendo o Antigo Testamento do ponto de vista cristão, vemos o desenvolvimento do drama da ação e revelação de Deus na história humana, por meio da experiência e do discernimento de um povo específico (os hebreus), em benefício de toda a humanidade. A culminação dessa história é o Novo Testamento.

Além do Antigo e Novo Testamento, a Bíblia inclui alguns livros chamados deuterocanônicos. Por causa de dúvidas sobre a sua autoridade, esses livros não são usados para estabelecer qualquer doutrina na Igreja. São leituras interessantes, cheias de histórias que emocionam e fascinam e de sábios pensamentos.

Quando você ler a Bíblia, use também seu cérebro. Não há nenhuma reverência ao se recusar a exercitar sua capacidade crítica. Se você estiver atento à leitura, perceberá com facilidade algumas passagens são poesia outras prosa. Mitos, lendas antigas, história oral, registros de testemunhos de acontecimentos reais, regras e rituais, leis morais, histórias criativas, sonhos, visões, ensinamentos relatados, comentários editoriais – tudo pode ser encontrado nas páginas da Bíblia. Deus pode falar e fala sua Palavra para nós por meio desses diferentes escritos. Seria desnecessário e difícil para nós ouvir o que Deus está dizendo, se pretendêssemos que todas as passagens da Bíblia deviam possuir a mesma importância, e se atribuíssemos a elas uma interpretação limitada, rígida e literal.

Talvez seja melhor usar o plural, Escrituras para a Bíblia, que vem duma palavra grega que quer dizer “livros”. A Bíblia não é um livro só, mas uma coleção de livros. Muitos deles são também compilações de material mais antigo. Tudo levou mais ou menos mil anos para ser escrito e organizado. Podemos considerar a Bíblia como um livro só, porque nela vemos a ação de Deus unindo os vários elementos. Três boas perguntas devem ser feitas, quando estudamos a Bíblia:

  • Qual foi o verdadeiro sentido dessa passagem para os leitores originais e por que ela foi escrita?
  • Como podemos interpretar essas palavras em nosso tempo?
  • E, principalmente, como isso se aplica à minha vida e o que eu posso fazer a respeito?

Talvez você não escute nenhuma voz ao seu ouvido. Mas enquanto as Escrituras estiverem influenciando e fazendo parte de seus pensamentos, Deus estará falando com você e você estará ouvindo a sua palavra. Os cristãos que estudam a Bíblia em particular e a ouvem na comunidade, ou vivem e ensinam o evangelho no mundo, continuam sentindo e transmitindo a Palavra de Deus em nossos dias.

A Bíblia é, portanto, o alicerce do triplo caminho. Aqui Deus nos encontra e fala conosco por meio de Jesus Cristo. Há outras duas fontes da mesma água viva. Cada uma fornece as oportunidades para o encontro do humano com o divino. Para os cristãos, nem a oração e nem os sacramentos existem separados da Bíblia. A Bíblia seria apenas uma coleção de livros antigos, se não a recebêssemos no contexto da Oração e dos Sacramentos.

Extraído do Livro O Jeito de Ser Anglicano, escrito por John Baycroft